Jornal Carreira & Sucesso: A relação entre o mundo da Fórmula 1 e o universo corporativo

Entrevista – RH
Cadu Lemos: a relação entre o mundo da Fórmula 1 e o universo corporativo


Maiara Tortorette

Você já pensou que o mundo da Fórmula 1 e o universo corporativo podem ter diversas semelhanças? Cadu Lemos, palestrante e fundador da empresa Cadu Lemos Associados, Marketing & Relacionamento, explica essa interessante analogia em suas apresentações, com foco no desenvolvimento de pessoas, planejamento e trabalho em equipe.

Em entrevista ao Carreira & Sucesso, Cadu fala sobre sua trajetória profissional, criação da metodologia “9Cs de alta performance” e destaca a importância do RH nas relações e capacitação dos profissionais.

Boa Leitura!

Conte-nos sobre sua trajetória profissional.

Eu nasci em São Paulo, mas fui criado em Brasília, já que meus pais foram para lá logo após a inauguração da cidade. Então eu estudei Administração na Universidade de Brasília e lá eu fiz uma carreira muito curta, por cerca de dez anos, em comunicação e rádio. Eu sou daquela época do rock de Brasília e trabalhava como locutor com o Renato Russo entre outras grandes figuras.

A partir daí, muitas pessoas começaram a ir pra SP e eu também resolvi voltar e iniciei meu trabalho em agências de propaganda. Atuei nos maiores grupos de comunicação do Brasil e do Mundo, que é o Ogilvy & Mather e o Young & Rubicam. Nestas empresas direcionei minha carreira para área de marketing de relacionamento. Depois, no meio do caminho, um cliente que eu atendia me indicou para a área de marketing do Banco Nacional e eu aceitei. Lá, eu participei ativamente da fusão com o Unibanco, que ocorreu em 1995 e esse foi o meu primeiro despertar para essa questão de espírito de equipe e cultura corporativa.

Após a fusão, acabei recebendo uma proposta completamente inesperada de montar um Call Center na VR e resolvi aceitar. Tornei-me Diretor de Serviços a Clientes lá durante um ano e meio mais ou menos e essa atuação foi muito importante para conhecer ainda mais sobre gestão de equipe e treinamento, mas depois que estava tudo pronto e acabou virando rotina, resolvi virar sócio de uma empresa de pesquisa de mercado.

Esta empresa atendia a VR e eles acabaram me convidando para assumir parte da sociedade, onde eu ajudei a desenvolver o produto  “Cliente Misterioso”, que na época era totalmente inédito. Quando recebíamos os resultados destas pesquisas, que eram realizadas com os próprios clientes, conseguíamos exatamente uma visão de aprimoramento do treinamento, o que começou a formar o embrião da minha empresa. Logo depois dessa sociedade, que foi vendida para um grupo estrangeiro, resolvi trabalhar a minha visão dentro de tudo que eu já havia vivido.

Em 1998 iniciei voo solo com a minha empresa Cadu Lemos Associados, Marketing & Relacionamento, e foquei nos serviços de cultura corporativa, gestão de mudança, integração de culturas, treinamentos, workshops, entre outros. Ou seja, tudo baseado nessa visão de liderança e espírito de equipe.

A Cadu Lemos Associados, Marketing & Relacionamento trabalha com o objetivo de “Reinventar valor através das pessoas”. Qual a importância disso nas empresas de hoje?

A questão de valorização e valores é fundamental porque hoje nós temos um mercado onde os produtos e serviços são cada vez mais parecidos uns com os outros. Sendo assim, o diferencial é criado nas relações e nos vínculos que as pessoas constroem e quem faz isso são os colaboradores. Então primeiro eu tenho que olhar para dentro, para o meu ambiente e para a minha cultura e depois analisar como é que ela se reflete fora para o cliente, para o acionista e para a comunidade em que está inserida.

Como surgiu a ideia de ministrar palestras?

Eu trabalhava na Wunderman e meu chefe, que era presidente da empresa na época, não pôde comparecer a uma palestra para que havia sido convidado e pediu para que eu fosse no lugar dele. Acabei ministrando esta palestra e a empresa que organizou o evento, a Lab SSJ, gostou da minha apresentação e me convidou para participar de outras. E assim eu fui caminhando.

Passado este período, fui co-autor de um livro com o Max Gehringer e outros autores e, a partir daí, minha carreira como palestrante ficou encaminhada. É importante destacar que eu faço palestras, no entanto o foco principal da minha empresa é o que tange a todo o aspecto, então palestra é uma ferramenta, workshop é outra, treinamento é outra, mas na verdade temos várias frentes.

Como podemos definir e explicar o conceito de 9 Cs?

Os 9Cs é uma metodologia que eu desenvolvi ao longo dos últimos dez anos. É como se fosse uma mandala, com um núcleo que é a Causa, ou seja, qual a causa de uma empresa, de uma área, de uma equipe.

A partir daí, gravitando em cima deste núcleo, temos a Comunicação, qualquer empresa ou grupo de indivíduos que tem uma causa comum ou um propósito precisam se comunicar. Sendo assim, quando é possível se comunicar para todos os lados de maneira transparente e consciente, é possível criar um ambiente onde haja Confiança, que é o segundo C. E se eu tenho a confiança e eu me comunico, acabo criando um Compromisso já que existe uma visão alinhada. Então, a partir do momento que assumimos esse compromisso, temos uma causa em comum, ou seja, uma Cooperação, que é o próximo C. A sequência dessa roda é que se eu coopero por tudo o que já foi conquistado anteriormente, eu vou atingir meu objetivo. E depois da Conquista é muito importante para a cultura das organizações que Celebrem, pequenas e grandes conquistas, isso cria e fortalece os vínculos entre as pessoas. Ao final desta comemoração temos que olhar pra trás e ver que sobrou de aprendizado com todo esse processo e, então, o próximo passo é Compartilhar esse conhecimento e fazer com que todo o grupo cresça junto. Para finalizar, o último C pode ser variável, sendo positivo dar Continuidade ao que deu certo, ou Corrigir o que não deu certo.

De onde veio esse conceito do trabalho em equipe alinhado a Fórmula 1?

Esse trabalho surgiu por conta de uma paixão pessoal, já que eu gosto muito de automobilismo desde criança. Um dia eu estava em um hotel fazendo uma palestra sobre espírito de equipe para a AGF Seguros, hoje Allianz e me convidaram para ajudar com meus conhecimentos em uma atividade com uma réplica de um  Fórmula 1. Lá eu conheci meu sócio Mario Pati Jr, o Keko Pati, que é ex-piloto, engenheiro, dono de equipes de corrida, e foi ele que desenvolveu este equipamento, inédito no mundo e a partir daí a gente nunca mais se separou.

Eu desenvolvi o conteúdo, ele tinha os equipamentos e a gente criou um programa que é o Pit Stop Experience, um dos mais bem sucedidos da nossa carteira. Eu faço uma palestra de aproximadamente 50 minutos, com uma analogia entre o mundo da F1 e o mundo das empresas e, em determinado momento, apresento dois carros de F1, a gente divide os grupos e os profissionais vão tentar fazer a troca de pneus o mais rápido possível. A ultima parte é um briefing para compartilhamento e fixação do aprendizado e o compromisso com a ação futura.

Nesse programa, a gente aborda diversos aspectos como planejamento, organização, visão sistêmica e visão de processos, liderança, tomada de decisão sob pressão, então todos aqueles 9Cs são trabalhados, inclusive o compartilhamento, que é realizado no final. Eu tenho clientes como o Bradesco e Itaú que utilizam este programa em diversas áreas, por exemplo, para realizar integração entre as equipes e culturas.

Qual o principal perfil das empresas que contratam sua palestra? O que elas realmente precisam desenvolver em seus colaboradores?

Existem empresas com a necessidade de integração de times, principalmente nos casos de fusão, há outras que precisam trabalhar algumas questões ligadas a comunicação, atitude ou liderança. Existem necessidades diversas, mas, no fundo, nós estamos falando das necessidades do ser humano dentro do ambiente de trabalho, ou seja, ele precisa se comunicar, relacionar-se, organizar-se, tomar decisões, compartilhar, enfim, viver de forma integrada e os nosso programas se aplicam exatamente pra todas as necessidades de desenvolvimento organizacional.

Qual a importância do RH nas empresas hoje? Está área deve se preocupar com o desenvolvimento de pessoas?

O RH precisa se apropriar da importância que ele realmente tem, pois muitas vezes percebo que ainda existem grupos e empresas que não vêem esta área com o respeito que merece. Ao mesmo tempo, o próprio RH não se posiciona para fazer valer a sua experiência e visão, que é cada vez mais importante para o mercado. Afinal, patrimônio não é apenas o balanço no final do ano, mas sim o capital humano e intelectual e as relações que foram construídas.

Existe algum sonho que ainda não realizou?

Primeiramente sou muito grato, por ser uma pessoa que faz exatamente aquilo que gosta e acredita, não foi uma coisa simples chegar até aqui, mas eu sempre soube disso e não diferencio trabalho de lazer. Então, nesse aspecto eu estou buscando coisas que me preencham, como um workshop que estou fazendo com fotografias, que é uma outra paixão. É um portfólio, que deve virar livro, sobre as profissões que estão em extinção, como sapateiro, barbeiro, alfaiate. Com esse trabalho eu quero levar para dentro das empresas esta questão de valores pessoais e profissionais por meio da expressão das imagens. Outro prazer que eu tenho é escrever e eu quero fazer um livro sobre ficção. Estou sempre buscando novos desafios.

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